O menino do interior de São Paulo que cresceu entre os cafezais, levou Brodowski para suas telas. E também retratou o Brasil para o mundo. O pintor, que hoje teria 120 anos, teve uma produção intensa, fez mais de cinco mil obras, que pincelaram a inocência e leveza infantil, mas também as mazelas e desigualdades do país.
“Quando você olha para a obra do Portinari, você fica surpreendido pela vastidão da temática, ele denuncia a injustiça social, a desigualdade que sempre existiu no país e isso é uma das marcas fortes dele”, afirma João Candido Portinari, filho do pintor. Ele é o criador e diretor do Projeto Portinari, responsável pelo resgate da vida e obra do artista, assim como preservação de memória para as próximas gerações.
Nascido em Brodowski, interior de São Paulo, Portinari deixou a cidade aos 15 anos para estudar no Rio de Janeiro. Mas sempre voltava e de lá surgiram suas inspirações para quadros, como a série Os Meninos de Brodowski. Foi dali também que surgiu sua crítica social, revelada em quadros como O Lavrador de Café e Cafezal, onde retratou a exaustiva rotina de homens negros nas lavouras.
O projeto Portinari catalogou mais de 5,4 mil obras do artista. “O Portinari morreu relativamente cedo, com 59 anos. O ciclo de produção dele é muito intenso, dos 19 aos 59, são 40 anos, com mais de cinco mil obras. Isso dá uma média de cento e tantas obras por ano, mais ou menos uma obra a cada três dias”, calcula Marcelo Dantas, curador da exposição “Portinari - Raros”.
O legado deixado por ele é inegável: mostrou o que o próprio país às vezes se negava a olhar, trouxe à tona a invisibilidade do trabalhador e da miséria. E contagia gerações de artistas que vieram após ele. “Portinari é um dos grandes artivistas do nosso país, sempre foi, porque o pioneirismo estava ali, trazendo essas questões”, afirma Mundano, também artivista. “Artivismo é a junção de ativismo com arte, ela vai buscar uma ação, gerar um incômodo, levar informação e transformação social”, explica.
Em 2021, Mundano fez em um mural gigante em São Paulo, uma releitura da tela de Portinari O Lavrador de Café. Usando cinzas das queimadas na Amazônia, Cerrado, Pantanal e Mata Atlântica, ele pintou um brigadista no lugar do lavrador, como forma de valorização desses profissionais e denúncia as queimadas.
O grupo de bordado Matizes Dumont também fez uma releitura de Portinari. A pedido de João Candido, os integrantes bordaram a mais importante obra do pintor, Guerra e Paz. “Fiquei muito emocionada, porque Portinari desenhou o Brasil, ele retratou o país, fez toda a trajetória do povo brasileiro com pinceis”, reflete Sávia Dumont, uma das integrantes do grupo.
O estilista mineiro Ronaldo Fraga também fez toda uma coleção inspirada no artista. “A obra de Portinari é um manifesto, ela não é muda, ela fala de coisas que você não gostaria de ouvir na maioria das vezes”, afirma. “No meu trabalho, eu procuro não perder de vista essas pessoas que pensaram um Brasil possível”, conclui.
O episódio “Portinari, um retrato do Brasil” vai ao ar no próximo domingo, 03/03, às 22h, na TV Brasil.
Ficha técnica
Reportagem: Flavia Peixoto
Produção: Maíra Heinen e Flavia Peixoto
Reportagem cinematográfica: JM Barboza
Auxílio técnico: Jone Ferreira
Apoio produção: Claiton Freitas (DF), Aline Beckstein (RJ), Ana Graziela (SP), Thiago Padovan (SP), Romina Farcae (Rede Minas)
Apoio imagens: Rogerio Verçoza, Sigmar Gonçalves, André Rodrigo Pacheco, Osvaldo Alves, Rodolpho Rodrigues, Luis Araújo, Alexandre Nascimento, Pedro Gomes, William Felix
Apoio auxilio técnico: Marcelo Vasconcelos, Raimundo Nunes, Alexandre Souza, José Carlos Mota, Claudio Tavares, Rafael Carvalho, João Batista, Ivan Meira, Carlos Jr
Edição de texto: Carina Dourado
Edição de imagem: Rivaldo Martins
Arte: Carol Medeiros e Alex Sakata
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