Com mais informações, vieram mais diagnósticos e, com isso, descobertas para pessoas já adultas de que sempre foram autistas. O diagnóstico tardio do autismo tem sido uma realidade cada vez mais comum no mundo. O Caminhos da Reportagem mostra neste episódio a história de pessoas que aram por esse processo de autoconhecimento e aceitação.
Uma dessas pessoas é uma das maiores referências sobre estudos de autismo no Brasil, o psicopedagogo Lucelmo Lacerda. Após o diagnóstico do filho, ele se reconheceu em várias características do Transtorno do Espectro Autista (TEA), o que o levou a buscar especialistas para confirmar a suspeita. “Me permitiu olhar para o ado de uma maneira diferente, estar mais atento às minhas limitações do cotidiano e as pessoas também poderem entender e me apoiar em um contexto que eventualmente eu precisar”, afirma.
Esse olhar para o ado e conseguir entender o porquê de se considerar fora do padrão é algo recorrente para quem se descobriu autista. A servidora pública Paula Nakamura diz que com a confirmação do TEA, veio também uma sensação de autoperdão. “De você ver que ou a vida toda lutando contra um monstro que para você era invisível e que, agora, ele está lá, com todos os contornos… e ele não é um monstro”, conta aliviada.
Alívio foi a palavra usada por Adriana e Rafael Ferraz, mãe e filho, quando se descobriram autistas. O primeiro a se confirmar no espectro foi Rafael, que se identificou após assistir uma série onde o personagem principal era autista. Com isso, foi percebendo que tinha limitações. “Eu ainda estou tentando descobrir a fórmula mágica para fazer amigos”, confessa.
Após a descoberta do filho, Adriana começou a pesquisar mais e se viu também em algumas características, fez os exames clínicos e teve a confirmação. Os dois usam um cordão com um dos símbolos do autismo: as peças de um quebra-cabeças. “É como se cada pecinha dessa fosse uma pessoa que é diferente. Eu sou autista, meu filho é autista, nós não temos as mesmas características”, explica.
O espectro autista é amplo e hoje há autistas se reconhecendo em todas as esferas sociais. Como o psiquiatra Alexandre Valverde, que mesmo sendo filho de psiquiatra, tendo colegas psiquiatras, só se descobriu dentro do espectro após se comparar a dois pacientes que são autistas. “As neurodivergências são espectrais, elas não se dividem em fronteiras muito claras”, explica, mostrando o porquê de nem sempre ser muito nítida essa percepção.
Percepção que é dificultada com o masking, uma estratégia consciente ou inconsciente usada por muitos autistas de mascarar suas características para se encaixar em padrões sociais. Foi o que aconteceu com o juiz Alexandre Morais da Rosa. “A gente acaba aprendendo a exercer um papel que não é nosso, como se fôssemos um ator de teatro”, conta. Hoje, diagnosticado, ele faz questão de se assumir com TEA: “eu já aviso para todo mundo que eu tenho as minhas limitações”.
FICHA TÉCNICAReportagem: Flavia Peixoto
Produção: Patrícia Araújo
Apoio produção: Thiago Padovan
Repórter cinematográfico: Sigmar Gonçalves
Auxiliar técnico: Alexandre Souza
Apoio reportagem cinematográfica: Rogerio Verçoza, André Rodrigo Pacheco, Raul Cordeiro, Cadu Pinotti
Apoio auxílio técnico: Dailton Matos, Thiago Pinto, Raimundo Nunes Batista, Ivan Meira, João Batista
Edição de texto: Carina Dourado
Edição de imagens e finalização: Rivaldo Martins
Design: Carlos Drumond
Videografismo: Alex Sakata
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